terça-feira, 24 de maio de 2011

Homem de rua


Começava mais um dia de chuva.
Com gotas gordas, caindo
Sobre as cabeças das pessoas
E sobre as construções da cidade.
E lá estava ele, estático.
Sob seu amontoado de jornais.


Jogado sobre papelões,
Na escadaria da igreja, na praça.
A água gélida caía-lhe como facas.
Sentia um frio terrível, batia os dentes.
Urinou ali mesmo, tentando se aquecer.
Preocupava-se com seu cão.
Há mais de três dias não comiam,
Cada vez mais podia ver suas costelas.
Pensava em como viera parar ali.
Não conseguia se lembrar.
Sua memória já não era como antes.
Os roncos do estômago e o barulho da chuva
O impediam de pensar direito.
Estava com muito medo. E frio. E fome.
Chegara sua hora. O fim do sofrimento.
Talvez iria para um lugar melhor.
Não tinha essa certeza.
Não conseguia se lembrar.
Como era a vida antes disso?
Não importava mais. Não agora.
O céu chorava por ele, piedoso.
Dormia tranquilamente.
Nada mais de fome.
Nada mais de medo.
Só a paz.

2 comentários:

  1. sem palavras, gostei muito mesmo. por alguns minutos eu esqueci dos problemas corriqueiros e imaginei como seria estar no lugar dele. nao sei se vou dormir mais feliz por lembrar que meus problemas sao pequenos comparados a tantos por aí, ou se dormirei mais triste por ter sido lembrada que enquanto eu durmo, há tantas pessoas como ele. De qualquer forma, dormirei mais consciente.

    Espero ler mais poemas assim! : )

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  2. Nossa Dourado, gostei muito muito*
    Seus poemas são muito bons, conseguem nos transportar para dentro de tudo.
    Parabéns amr
    bgks
    @dkdree_

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