terça-feira, 15 de março de 2011

Remediações



Chegou em casa naquele dia querendo remediar as coisas. Já havia algum tempo que não se davam mais. Sabia que as coisas não iam bem. Abriu a porta, jogou seu casaco sobre o cabideiro, como fazia todos os dias. Deixou as coisas na sala e foi procurá-lo nos outros cômodos. Não o encontrou em lugar nenhum da casa.
Apenas havia um envelope endereçado à ela, com a letra dele, sobre a lareira. A chuva caía lá fora, assim como as lágrimas lhe caíam dos olhos agora. Não tinha coragem de abrir o envelope. Tinha noção do que encontraria. Resolveu ir comer primeiro, mas nada lhe descia pela garganta. Um aperto profundo e terrível lhe tomou o peito. Voltou à sala, tomou o envelope nas mãos e novamente sua vista ficou marejada de tantas lágrimas que lhe vinham. Abriu-o, sabendo que possivelmente não gostaria do que veria. Leu-o com dificuldade. Nele, seu marido havia escrito que viajaria para a casa da mãe em Minas, estava cansado de como as coisas iam, mas que a amava muito e que talvez pudesse mudar de ideia ao vê-la novamente. Seu vôo sairia exatamente às 19 horas. Eram 18:45. Com dificuldade, correu para a garagem, pegou o carro e correu para o aeroporto. Chegando lá, carros de polícia, bombeiros, reportagem. O avião com destino a Minas Gerais havia sofrido uma pane elétrica durante a decolagem. Seu amor, suas esperanças, sua vida, tudo havia ido junto com o avião. Estava só agora. E descobriu da pior maneira que tudo se pode remediar, exceto a morte.

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